Bicho Grilo – 2001

Um violão, um violeiro
Um cantador de jeito infantil
Um bom motivo, uma estrada clara
De um fim de tarde, de um mês de Abril
Uma esperança, um desalento
Um sentimento enfim pra escapulir
Um cheiro vivo de mata verde
Pra perfumar o canto que sair
Um verdadeiro violeiro corre
Todos os cantos sem procurar
Comida quente, colchão de molas
E um teto firme pra se abrigar
Prefere o gosto que se veste doce
De uma pitanga e o que há
Em vez de cama, grama macia
Sem teto em cima pra Lua chegar

No pé da Serra, sombra da mangueira
Vento e ribeirão
Alguém espera pra acalmar a pressa em seu coração
A vida aponta onde essa viola
Vai poder tocar
Vai de carona e o seu destino
É um raio de luar

Quando você for chegar
Pode me dar um alô
Acho que hoje vai chover
Mas se molhar, molhou
Se rolar um Blê Aká
Diz que tá que eu tô
Ninguém vai querer cortar a onda do vovô
Eu desconfio que o coro tá comendo
E nesse rio só tem jacaré
E eu não vou virar
Bolsa de madame pra ninguém me carregar
Eu tô na vida solto pra viver
E não vou ficar marcando toca aqui
Feito um zé mané
O tempo voa tão depressa
O bicho vai pegar
Para logo, para já
De só mandar caô
Chega desse bá-blá-blá
O Alibabá babou
Quando você for olhar
A banda já passou
Mas se boia não boiar, a boia não boiou

Bip-bip é muito mais ligeiro
Ronaldinho é o terror do goleiro
Pagodinho é muito mais brasileiro
Dominguinhos é o maior sanfoneiro

Paz e Harmonia, paz e harmonia
Paz e Harmonia, o Mundo em paz

Porque você quer se livrar de mim?
Porque você não vai até o fim
Se quero amor, você quer paixão
Eu sou Moscou, você é Saigon

Eu quero a senha, mas você não diz
Eu quero apenas te fazer feliz
Eu vou beber os mares do Sul
Em Bora-Bora, você Istambul
Você cada vez mais fica impossível
E só me faz ficar invisível com você
Previsível sem você
Não tenho mapa pra guiar meu coração

Êta mulher assanhada
Tá sempre na parada quando tem forró
Roda escorrega de saia apertada
Não pode sentir cheiro de um paletó
Gosta de dançar colada
Quando toca o fole do seu Gonzagão
Não quer conversa, não liga pra nada
Só quer ficar agarrada no forró Baião

Eu vou contar pra você
E você pode nem acreditar
Mulher casada quando cai na madrugada
Mariposa quebra asa se a lâmpada apagar
Eu vou contar pra você
E você pode nem acreditar
Mulher com fogo vai pra barriga do Lobo
Se cai na boca do povo, caçador não vai salvar

O forró tá bom, tá gostoso, tá danado
Morena do meu lado não para de remexer
Eu cheguei sozinho, tão desligado
Fiquei logo atirado, saliente pra valer
A zabumba treme, a sanfona chora
Moreninha cola é de endoidecer
O meu peito geme, ela me consola
Vamos lá pra fora, deixa acontecer
É um treme-terra, bate cocha
Escorre língua quase roxa
Pé-de-serra no forró
É um vira e mexe, um deita e rola
Sobe e desce, dentro e fora
Quem não sabe pode dar um nó

Venha, meu amor, dançar comigo
Nós estamos à perigo e hoje a noite é de prazer
Faça um calor no meu cangote
No balanço desse xote tudo pode acontecer
Saiba que ninguém se arrepende
Quando o fogo se acende e se tem uma paixão
Fica que eu gostei desse teu jeito
Que me fez bater no peito a dança do coração

E quando dá no coração é bom, é amor a noite inteira
E se é coisa de paixão, meu bem
A dança faz do corpo uma fogueira

Vamos nesse xote agitadinho
Meu amor, devagarinho
Não vai dar pra entender
Vamos xotiar agarradinhos
Vai me dando seu carinho
Que eu não paro de mexer
A minha paixão já não é pouca
Quando beijo sua boca
E me aperto em sua mão
Fico sem saber dançar direito
Quando bate no meu peito
A dança do coração

Água da fonte vai pra moringa
Água do rio não tem jeito, vai pro mar
Se da goteira já não respinga
Vou tomar uma no forró em Lumiar

Minha pretinha tá morando lá
Mudou de clima pra desestressar
Subiu a serra pra poder ficar pertinho das estrelas
Até que ser um bicho-grilo é bom
Queimar incenso pra rolar um som
Fazer fogueira e cantar, depois poder namorar
Tomando banho de cachoeira

Pergunta ao Bem-te-vi se eu vou
Pergunta para o Beija-flor
Se existe algum lugar
Que eu possa te encontrar
Me diz, é só chamar que eu vou
Pergunta ao Bem-te-vi se eu vou
Pergunta para o Beija-flor
Carinho não faz mal
Se aí não tá legal
Aqui está sobrando amor

Melhor instante é quando chega o fim do dia
E a noite fica mais fria
Dá gosto de namorar
E a Lua espalha seu véu, enfeitando a mata
E a sanfona cor de prata faz a pele arrepiar